O corpo ideal x corpo real
Na atualidade, a divulgação repetitiva pela mídia de corpos magros, longilíneos, esbeltos, de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, associada ao consumo de produtos, de forma latente ou explícita, promove uma idealização desse tipo físico corporal, relacionando-o aos ideais de beleza, saúde, felicidade e ao poder de atração sexual.
Esses modelos - cujo padrão estético não corresponde ao tipo físico mais frequente em nosso país - podem contribuir para a construção de uma autoimagem negativa para aqueles que não se enquadram nesse padrão veiculado pelas propagandas. As crianças e os jovens podem se sentir “feios” e, consequentemente, diminuídos nas possibilidades de auto aceitação e autocuidado, quesitos tão necessários para a busca de prazer nas relações afetivas.
Essa insatisfação tem como consequência, por exemplo, o aumento de distúrbios alimentares (como obesidade, anorexia, bulimia) entre mulheres adolescentes em vários países do mundo. Ou, ainda, o incrível recorde brasileiro de cirurgias plásticas estéticas. Sabemos que são padrões culturais que estabelecem o que se considera belo ou não, e isso varia em diferentes momentos da história e em diferentes culturas. Já houve época em que as “carnes fartas” das mulheres é que eram valorizadas esteticamente.
Texto original: Yara Sayão e Silvio Duarte Bock
Edição: Equipe EducaRede
Nosso corpo é, antes de tudo, nosso primeiro e maior mistério. Para estarmos realmente presentes no mundo, é preciso reconhecer que somos um corpo em sua imensidão de complexos processos que nos fazem ricos em sua consciência e inconsciência desconcertantes e pragmáticas e em suas atitudes, que são sempre corporais.
Construímos e destruímos discursos corporais que resultam em um conhecimento de nossa vida. O corpo, então, é o lugar onde há a quebra da simetria, onde tudo pode acontecer e acontece (Barros, 2001).
Também construímos e destruímos nossa imagem corporal. É uma sucessão de tentativas para buscar uma imagem e corpos ideais. E esse mundo de imagens corporais que permeia nossas vidas está pleno de emoções.
Existem reações fisiológicas ocorrendo o tempo todo em nosso corpo. No entanto, quando essas reações orgânicas estão prejudicadas, podem afetar a imagem que uma pessoa tem de si mesma.
É importante ressaltar também que, quando percebemos nosso corpo ou partes dele, projetamos essas imagens para outros corpos e passamos a ter curiosidade sobre outras partes que, até então, eram-nos obscuras. Na verdade, fica difícil dizer qual corpo percebemos primeiro: o nosso ou o do outro. Portanto, "a imagem é um fenômeno social, pois há um intercâmbio contínuo entre nossa própria imagem e a imagem corporal dos outros" (Schilder, 1999, p. 240-51).
Mas, então, qual seria o conceito de imagem corporal mais próximo da realidade?
Muitos autores elaboraram suas visões com base em experiências empíricas. Cash e Pruzinsky (1990) elaboraram sete afirmações que melhor abrangem o conceito de imagem corporal. São elas:
Imagem corporal refere-se às percepções, aos pensamentos e aos sentimentos sobre o corpo e suas experiências. Ela é uma experiência subjetiva.
Imagens corporais são multifacetadas. Suas mudanças podem ocorrer em muitas dimensões.
As experiências da imagem corporal são permeadas por sentimentos sobre nós mesmos. O modo como percebemos e vivenciamos nossos corpos relata como percebemos a nós mesmos.
Imagens corporais são determinadas socialmente. Essas influências sociais prolongam-se por toda a vida.
Imagens corporais não são fixas ou estáticas. Aspectos de nossa experiência corporal são constantemente modificados.
As imagens corporais influenciam o processamento de informações, sugestionando-nos a ver o que esperamos ver. A maneira como sentimos e pensamos o nosso corpo influencia o modo como percebemos o mundo.
As imagens corporais influenciam o comportamento, particularmente as relações interpessoais.
O corpo e a sua imagem são elementos simbólicos e materiais que ocupam um momento no espaço e no tempo através do conhecimento, que é sempre renovável e translúcido. Transforma-se na razão direta de sua fugacidade em saber e exigir "ser entendido a partir de um lugar: um lugar que o reconheça no pormenor, mas que o identifique no todo" (Silva, 1999, p. 26).
Daniela Dias Barros
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